Ruanda | Para além dos fantásticos gorilas
Ruanda revela-se como um destino pulsante, com história marcada por resiliência e uma capital surpreendente
É natural que, ao pensar em Ruanda, nossas mentes se voltem para o avistamento dos gorilas-das-montanhas. Afinal, esse é um dos poucos lugares do mundo onde esses primatas se encontram protegidos. Mas, ainda que essa experiência seja de fato grandiosa e envolvente, Ruanda é um país que merece que os olhares de quem o visita também sejam voltados para sua história.
Por isso, antes de mergulharmos na vivência dos gorilas, apresentaremos pontos essenciais sobre a trajetória desse país e locais chave para uma viagem ainda mais profunda e significativa.
Superação
Foi em 1994, há exatos 31 anos, que Ruanda passou por um período turbulento e delicado. Um conflito envolvendo duas de suas principais etnias ocasionou um dos mais brutais e rápidos genocídios da história recente, resultando no assassinato de aproximadamente 800 mil pessoas, a maioria da etnia Tutsis, por extremistas Hutus. Hoje, inúmeros memoriais se encontram espalhados pelo país para honrar essas vítimas, mas também como forma de inspirar a esperança para um futuro melhor e apaziguador.
Desde então, Ruanda vem se reconstruindo e, atualmente, ocupa um lugar de notoriedade mundial, seja em setores como economia, desenvolvimento social, educação e tecnologia, sendo reconhecida como um exemplo de rápido desenvolvimento e resiliência.
“O mundo presenciou muitos genocídios nas últimas décadas, mas poucos lidam com sua história de forma tão madura e franca. Nada garante que Ruanda permanecerá em equilíbrio nas próximas décadas, mas o país mostra que está fazendo tudo o que pode ser feito para superar o genocídio de 1994. A história de Ruanda prova que é possível reconstruir um país, no qual todos se sintam respeitados e incluídos. Esta é a chave da paz.”
— Daniel Sousa, especialista Latitudes
Onde tudo começa

Kigali, capital de Ruanda
Em Ruanda, tudo tem início em Kigali. Além de capital, é a cidade onde se pode observar e refletir sobre o passado e contemplar a esperança para o futuro. Durante um passeio por ela, avistam-se ruas, bairros e outros espaços públicos organizados e limpos, bem como uma arquitetura notável.
Foi graças a essa organização e limpeza exemplares que Kigali foi distinguida com um dos mais prestigiados prêmios de desenvolvimento da habitação, o Habitat Scroll of Honour, em 2008, tornando-se a primeira cidade africana a receber tal reconhecimento.
É em Kigali que se localiza um dos mais emblemáticos locais que relembram o genocídio contra os Tutsis: o Memorial do Genocídio. Ele cumpre o propósito de honrar e recordar as milhares de vítimas, e de aprofundar o entendimento do visitante por meio de exposições impactantes, oferecendo ensinamentos sobre a prevenção de conflitos e a construção de um futuro mais luminoso e sem ódio.
“O memorial conta, de forma pormenorizada, o caminho de Ruanda até o genocídio. Fica claro que não foi uma crise iniciada em 1994, mas décadas antes, com um desequilíbrio estrutural entre Hutus e Tutsis. O memorial é muito hábil em mostrar os fatos que levaram ao ressentimento e à radicalização dos Hutus. O próprio genocídio é narrado de forma didática, sem esconder fatos nem números. E o processo de reconstrução do país é muito bem caracterizado. É um espaço de reconciliação, mas que não se furta a mergulhar nas causas e consequências daqueles 100 dias de 1994. Toda esta narrativa construída pelo memorial é emoldurada por uma arquitetura que acompanha, de forma angustiante, o passo a passo da crise. Imperdível!”
— Tanguy Baghdadi, especialista Latitudes

Memorial do Genocídio, em Kigali.
© Foto: Adriano Gambarini
A arte ruandesa é outra vivência marcante proporcionada em Kigali, especialmente no Inema Arts Center. É lá que nos conectamos com a arte do país e suas características. O espaço expõe pinturas, esculturas e expressões em mídia mista produzidas por criativos artistas ruandeses, além de oferecer outras experiências artísticas únicas: produções feitas exclusivamente por mulheres, como joias sob medida, linhos africanos e artigos em couro, e apresentações de um vibrante grupo de dança cultural juvenil.
Kimironko Market é outro lugar essencial na capital, por colocar o viajante em contato direto com a cultura e o cotidiano local. Considerado o mercado mais movimentado de Kigali, ele fervilha com uma enorme variedade de produtos: frutas, verduras, tecidos, roupas, calçados, artigos de primeira necessidade e muito mais. Ali, enquanto vendedores expõem suas mercadorias em uma vibrante vivência sensorial, moradores fazem suas compras e revelam as particularidades da vida ruandesa.
Gorilas e muito mais

Gorilas-das-montanhas no Parque Nacional dos Vulcões
É incrível pensar que esse país é o lar de uma parcela significativa da população mundial dos gorilas-das-montanhas. Ruanda é formada geograficamente por uma cadeia vulcânica, florestas densas e altitudes elevadas, o que propicia a conservação desses primatas. No entanto, o histórico de preservação desses gorilas no país é ainda marcado por grandes lutas, especialmente contra a caça ilegal, o maior desafio de todos.
Intensos esforços já foram feitos até aqui, destacando-se nomes como Dian Fossey, pesquisadora que se dedicou a relevantes estudos sobre esses primatas e atuou de maneira ativa na preservação de suas vidas. O Campus Ellen DeGeneres do Dian Fossey Gorilla Fund reacende esse legado, funcionando como um espaço imperdível para visitação. Lá, o público tem acesso a exposições interativas e a detalhes de todo o trabalho de conservação realizado nas últimas seis décadas.
Outra forma que Ruanda encontra para dar continuidade aos avanços para a proteção de seus animais selvagens são os parques nacionais, que colocam a economia e a conservação lado a lado, com parte ou todo o lucro sendo revertido para financiar essas ações. Além de serem cruciais para a sobrevivência dessas espécies, eles se tornam destinos onde os viajantes podem ter um contato mais próximo com a vida selvagem. O país abriga três principais parques, cada um com experiências diversas no que diz respeito à observação dos animais.
O Parque Nacional dos Vulcões, por exemplo, é o santuário dos inesquecíveis gorilas-das-montanhas, sendo o principal local para encontrá-los reunidos em família e em seu habitat natural. O encontro acontece por meio de trilhas em grupo e com a supervisão de guias, proporcionando também a apreciação das paisagens ao redor, como encostas íngremes, florestas tropicais, florestas de bambu e charnecas em altitudes mais elevadas.

Chimpanzés no Parque Nacional de Nyungwe Forest
Outro é o Parque Nacional de Nyungwe Forest, que alimenta dois dos maiores rios do mundo, o Congo e o Nilo, e está situado em uma das florestas tropicais mais antigas de Ruanda. Seu valor se torna universal em razão da magnitude biológica e da presença de espécies endêmicas, sendo por isso reconhecido como Patrimônio da Unesco.
O parque é lar de 16 espécies de primatas, incluindo o chimpanzé, monitorado diariamente devido à ameaça global. Algumas delas são endêmicas, encontradas apenas na região. A experiência no parque oferece diferentes tipos de caminhadas e observação de pássaros, proporcionando uma imersão completa na natureza local.

Grupo de Zebras no Parque Nacional Akagera
Por fim, o Parque Nacional de Akagera, uma das maiores áreas úmidas da África Central e um refúgio para a vida selvagem de Ruanda. Desde que se dedicou intensamente à conservação e reintrodução, o parque hoje abriga uma variedade abundante e próspera de animais, incluindo leões, rinocerontes-negros-orientais, elefantes, búfalos, zebras, girafas, leopardos, hipopótamos e crocodilos. Além disso, a região apresenta paisagens formadas por vastas planícies e florestas densas e ralas, que podem ser apreciadas durante atividades como passeios de barco ou mesmo safáris.
Ruanda configura-se como um destino instigante e essencial para todo viajante que almeja conhecer lugares que despertam as mais distintas emoções.
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